Precisamos de duas palavras

Em busca de palavras para sintetizar conceitos.

Acabo de me dar conta de que parecem não existir palavras simples para um conceito chave no estudo de jogos. Refiro-me aos diferentes papéis que uma pessoa desempenha ao participar de qualquer jogo.

Vou tentar explicar isso com uma analogia para o teatro. Distinguimos ator de personagem. É verdade que, em uma determinada instância de uma peça de teatro, ator e personagem são a mesma pessoa humana, realizando os mesmos atos e dizendo as mesmas palavras.

A chave da diferença é a motivação de cada um destes papéis. Quando Ruth interpreta Lisístrata, a motivação da atriz pode ser ter o bastante para pagar as contas do fim do mês, mas a motivação de Lisístrata é interromper a guerra entre as cidades gregas. Lisístrata abomina uma guerra que, para Ruth, acabou há mais de dois mil anos.

O mesmo acontece em um jogo, e é um fenômeno conhecido. Quando decido me sentar para jogar Truco com meus amigos, a minha motivação pode ser me divertir; quando estou jogando, a minha motivação é procurar vencer. As motivações são distintas, e os papéis são também distintos, embora seja uma mesma pessoa, realizando os mesmos atos e dizendo as mesmas palavras.

Claro, há pessoas que misturam as duas coisas. É isso que inspira a admoestação implícita na afirmação olímpica, “o importante é competir e não vencer”.

Temos, então, uma dicotomia análoga à dicotomia ator-personagem; mas acho que a língua portuguesa e a língua inglesa não incluem palavras diretas para o papel da pessoa protojogadora, e para o papel da pessoa jogadora.

Ficam a curiosidade, e a pergunta: como referir estes dois conceitos?

O Quartelmestre
O Quartelmestre
polímata
filomático
pesquisador
escritor

LUIZ CLÁUDIO, o Quartelmestre, the Rules Lawyer, conversa e escreve sobre jogadores e jogos de todos os tipos, sobre ludologia, narrativas, poesia, e mais.

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