Namore uma menina que lê
Um texto de Rosemarie Urquico.
Este texto é a minha tradução para o delicioso Date a girl who reads, escrito por Rosemarie Urquico. O pouco que consegui descobrir sobre a autora encontra-se em um blog de 2017 – mas o link do Facebook indicado lá está desatualizado; acho que a página atual da autora é https://www.facebook.com/rosemarie.mendoza.756412, mas não tenho como verificar, já que não tenho uma conta neste serviço.
Meu primeiro contato com o texto, e a fonte de onde o traduzi, foi em https://www.patheos.com/blogs/loveinshallah/2014/02/14/date-a-girl-who-reads/.
Namore uma menina que lê. Namore uma menina que gasta seu dinheiro com livros e não com roupas. Ela não tem espaço em seu armário, porque tem livros demais. Namore uma menina que tem uma lista de livros que quer ler, e que já pegava livros em bibliotecas quando tinha doze anos.
Encontre uma menina que lê. Ela é aquela que tem, na bolsa, um livro que ainda não acabou de ler. Ela é aquela que revela o carinho nos olhos quando examina as estantes da livraria, aquela que solta um gritinho contido quando encontra o livro que procurava. Sabe a menina esquisita que cheira as páginas de um livro velho, em um sebo? É ela. Elas nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente as amareladas.
É aquela que está lendo enquanto espera, sentada no café. Se você olhar a xícara dela, vai notar que o creme já se separou e está flutuando, porque ela está concentrada na leitura. Perdida em um mundo criado pelo autor. Sente-se. Ela pode olhar feio para você, porque as meninas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunte-lhe se ela está gostando do livro.
Compre mais um café para ela.
Deixe ela saber o que você acha de Murakami. Veja se ela conseguiu ler mais que o primeiro capítulo de A Sociedade do Anel. Entenda que, se ela disser que entendeu o Ulysses de Joyce, só vai estar tentando parecer ser inteligente. Pergunte se ela gosta de Alice, ou se ela quer ser Alice.
É fácil namorar uma menina que lê. Dê-lhe livros no aniversário, no Natal, no dia dos namorados. Dê-lhe o presente das palavras, em poesia, em canção. Dê-lhe Neruda, Pound, Sexton, Cummings. Deixe que ela perceba que você sabe que palavras são amor. Compreenda que ela sabe a diferença entre livros e realidade, mas que – por Deus! – ela vai tentar fazer sua vida se parecer um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, não será culpa sua.
Ela tem que tentar, um dia.
Minta para ela. Se ela entende sintaxe, ela vai entender que você precisa mentir. Atrás das palavras estão outras coisas: motivação, valores, sutilezas, diálogo. Não será o fim do mundo.
Fracasse para ela. Porque a menina que lê sabe que o fracasso sempre conduz ao clímax. Porque meninas que lêem sabem que todas as coisas acabam. Que você sempre pode escrever uma continuação. Que você pode começar mais uma vez, e mais uma, e continuar a ser o herói. Que a vida precisa de um ou dois vilões.
Por que ter medo de tudo o que você não é? Meninas que lêem entendem que as pessoas se desenvolvem, como os personagens. Exceto na série Crepúsculo.
Se você encontrar uma menina que lê, fique perto dela. Quando você a vir chorando, às duas da manhã, agarrada a um livro, faça-lhe uma xícara de chá e a abrace. Você poderá perdê-la por uma ou duas horas, mas ela sempre vai voltar para você. Ela vai falar como se os personagens do livro fossem reais – porque eles são, por algum tempo.
Você vai se declarar a ela em um passeio de balão. Ou durante um concerto de rock. Ou, bem casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.
Você vai sorrir tão forte que você não vai entender porque seu coração não estoura e sangra em seu peito. Vocês vão escrever a história de suas vidas, vão ter filhos com nomes esquisitos e gostos ainda mais esquisitos. Ela vai apresentar a seus filhos o gato no chapéu e Aslan, talvez no mesmo dia. Vocês vão andar juntos pelos invernos da velhice, e ela vai recitar Keats em voz baixa, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma menina que lê porque você merece. Você merece uma menina que pode lhe dar a vida mais colorida que se pode imaginar. Se você puder lhe dar apenas monotonia, horas paradas, e propostas pela metade, então é melhor ficar sozinho. Se você quer o mundo, e todos os mundos além dele, namore uma menina que lê.
Melhor ainda, namore uma menina que escreve.