A lenda do barril
No tempo de D. João Charuto, um jovem cansou da sua vida de amarrar cachorro com linguiça. Decidiu engajar-se na marinha d’el-rei para conhecer o mundo.
Dito e feito, ei-lo como grumete em um dos imponentes vasos de guerra da marinha, singrando os sete mares.
Mas logo nosso herói descobriu que a rotina de bordo era ao menos tão monótona quanto a rotina de caninos e embutidos. Pior, a comparação ainda revelava uma imensa desvantagem para o cotidiano náutico: a ausência do belo sexo.
Esta percepção deixou o grumete acabrunhado, e desatento a seu ofício. Um dos marujos mais antigos notou o ar macambúzio do jovem, e chamou-o de lado para saber o que o afligia. Quando afinal o grumete explicou o problema, o marujo deu uma risada e lhe disse:
– Seus problemas acabaram! Hoje à noite, quando acabar seu quarto, venha para o castelo de proa e vou lhe mostrar como cuidamos disso no mar.
À noite, o grumete compareceu ao castelo de proa, um dos compartimentos que ele ainda não conhecia. Lá estavam vários outros tripulantes, com ar satisfeito, todos ao redor de um grande barril. O marujo que falara com ele também estava lá. Cumprimentando os mais antigos, o grumete perguntou, um tanto encabulado, o que deveria fazer. Os marinheiros riram e lhe disseram, acompanhados de gestos eloquentes, que fizesse uso do buraco do batoque do barril.
O grume avançou, inseguro, mas achou que ainda era melhor ser alvo de piadas do que arder. Para sua surpresa, o buraco do barril ofereceu-lhe uma sensação extremamente prazerosa, da qual fez uso imediato, sob os aplausos dos mais antigos.
Momentaneamente satisfeito, o grumete agradeceu ao marujo que o orientara, e prometeu-se retornar todas as noites.
De fato, em várias noites sucessivas o grumete lá estava, fazendo farto uso do barril, sob os olhares aprovadores dos marujos mais antigos. Seu humor e disposição melhoraram consideravelmente.
Uma noite, quando o grumete chegou ao castelo de proa, surpreendeu-se em ver que os marujos estavam lá em fila, alguns já demonstrando impaciência. Sem entender o que se passava, perguntou-lhes o porquê da fila, e ouviu em resposta:
– Hoje é a sua vez de entrar no barril!