João Cândido, o Almirante Negro
Excelente reportagem da BBC sobre João Cândido, líder da Revolta da Chibata em 1910:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50680851
Um complemento às informações do artigo revela mais uma infâmia cometida sob a farda da nossa Marinha.
A música O Mestre-Sala dos Mares associa o “Almirante Negro” ao “Dragão do Mar”. Este fora Francisco José do Nascimento, líder da greve dos jangadeiros de Fortaleza contra o tráfico negreiro em 1881.
A jangada de Francisco do Nascimento, a Liberdade, foi levada para o Rio de Janeiro e desfilou sob os aplausos da multidão. Foi colocada no Museu Nacional, mas de lá foi transferida para o Museu da Marinha – de onde “queimada, feita em pedaços ou desmontada, desapareceu”.
A prisão de João Cândido como louco, por dois meses, traz-me à memória ainda outra infâmia, esta de ordem mais pessoal. Meu querido e saudoso tio Raimundo, trancafiado por meses como louco no hospital Marcílio Dias, durante os anos de chumbo, como represália por se recusar a cumprir ordens ilegais. Foi reformado e somente décadas depois conseguiu, nos tribunais, o direito à reintegração retroativa. Mas os tribunais não podiam lhe devolver a saúde, permanentemente abalada pelo “tratamento médico” com o qual foi torturado.
Muitos atos infames foram cometidos por membros de nossas Forças Armadas. Eles não podem ser protegidos e escondidos pelos atos heróicos, felizmente muito mais numerosos, de seus colegas de farda.
Nem pode a nossa bandeira ser emprestada para cobrir a infâmia e a covardia.