2018-10-19
O belo sumário do Erick Bretas me lembrou de um texto que publiquei em outubro de 2016:
É voz corrente no pensamento esquerdista que a população, chamada a escolher o seu destino, inevitavelmente escolherá o rumo certo : as propostas progressistas , sempre identificadas com a esquerda . Quando isso não acontece, a população foi manipulada por forças sombrias a serviço da classe dominante . No Brasil, recentemente, estas forças sombrias são usualmente identificadas com os media monopolistas e golpistas .
Analisando em termos formais, este raciocínio é completamente falacioso: não apenas cria um argumento circular, como ainda parte de considerações apriorísticas — que são, na verdade, artigos de fé.
Saio da análise formal e procuro analisar empiricamente este raciocínio . Desde a Constituição de 1988, os partidos de esquerda conheceram um crescimento gradativo em seu eleitorado. Isso culminou com as duas eleições de Lula e a primeira de Dilma para a presidência, mas a segunda eleição de Dilma já mostrava uma inflexão para baixo nesta tendência.
Se aceitamos a tese segundo a qual o eleitor esclarecido vota inelutavelmente na esquerda , podemos concluir que, ao longo da última década do século XX, e da primeira década do século XXI, cada vez mais eleitores brasileiros tornaram-se esclarecidos .
Ainda segundo esta tese, esta massa de eleitores deixou de ficar esclarecida em 2016, vitimizada pela campanha da classe dominante que emprega os media monopolistas para imbecilizá-la e transformá-la novamente em uma massa de analfabetos políticos.
Ou seja: segundo esta tese, os eleitores brasileiros ficaram progressivamente mais inteligentes entre 1990 e 2010, mas de 2014 em diante ficaram subitamente imbecilizados por uma conspiração de proporções gigantescas.
Não apenas insulta e menospreza todo o povo brasileiro, como ainda passa um atestado de imbecilidade e de incapacidade às esquerdas que conseguiram conscientizar o povo, chegar ao poder, manter-se nele por mais de uma década… mas que foram incapazes de prevenir ou combater a nefasta conspiração .