2017-04-13
A dialética é um método filosófico, aplicável a um confronto entre ideias. Em nossos dias, a multimilenar história deste termo fica, frequentemente, eclipsada pelo uso particular que Marx, Lenin e outros lhe deram.
Marx, na verdade, criticou veementemente a abordagem que Hegel fez da dialética, e declarou, essencialmente, que dialética era o que ele (Marx) fazia, o resto era o resto. Algo semelhante a um ex-presidente da República dizer que nada do que foi feito antes dele teve valor, mas que tudo o que ele fez foi superlativamente bom.
Isso deixa tanto mais interessante o texto de uma carta, com data de 15 de agosto de 1857, escrita por Marx e endereçada a Engels. O autor estava discutindo um artigo que escrevera recentemente, sobre uma crise na colônia britânica da Índia:
Quanto ao caso em Delhi, quer me parecer que os ingleses devem começar sua retirada assim que a estação das chuvas se estabelecer em definitivo. Já que, atualmente, estou ocupando o seu lugar como o correspondente militar do Tribune, decidi escrever isso. Veja bem, estou aqui supondo que as notícias recebidas até agora são verdadeiras. É possível que eu quebre a cara. Mas, neste caso, sempre posso resolver o caso com um pouco de dialética. Naturalmente, eu escrevi meu texto de forma a que eu tenha razão, não importa o que aconteça.
A tradução/adaptação é minha, a partir do texto em inglês (que pode ser encontrado no Marxists Internet Archive).
Além, claro, do interesse histórico, esta singela carta deixa muito claro por que é fútil tentar engajar os esquerdistas em um debate real. Fatos são absolutamente irrelevantes.
O que importa é a fé.