2017-02-27

Na noite de domingo, dia 19 de fevereiro, aconteceria uma partida de futebol entre os dois principais times de Curitiba, o Atlético e o Coritiba. Desde a manhã daquele domingo, houve registros de brigas entre torcedores, por toda a cidade.

À tarde, torcedores do Coritiba se concentraram no estádio do clube, para seguirem de lá até o estádio do Atlético, onde aconteceria a partida. A Polícia Militar do Paraná providenciou uma força policial para escoltar os torcedores.

Houve uma briga entre torcedores e os policiais que estavam lá para defendê-los. Um sargento da PM deu um tiro no peito e matou um torcedor.

O jogo não aconteceu. Quando li, no dia seguinte, a manchete falando do cancelamento do jogo, imaginei que os times estariam protestando, ou em luto, pela morte do torcedor.

Ledo engano. Os times estavam discutindo com a Federação Paranaense de Futebol, com a Rede Globo, com o juiz, com meio mundo, pelos direitos de transmissão do jogo. Depois de quarenta minutos de embromação, concluíram o locaute e saíram de campo. Os cartolas, a Federação e a Globo divulgaram notas discutindo a importante questão de transmissão de direitos de um evento esportivo.

A morte de uma pessoa é, aparentemente, um mero incidente, e como tal não mereceu qualquer atenção dos que se dedicavam àquela alta questão. Mesmo um deputado federal paranaense, dias depois, publicou um artigo no qual elogiava a coragem dos times em enfrentar a malvada Rede Globo; somente no fim de seu texto comentou que até um torcedor teria morrido.

As notícias andam, e chegou o Carnaval. Ontem, no Rio de Janeiro, um carro alegórico de uma escola de samba prensou vinte pessoas contra uma grade, ferindo gravemente algumas delas. A Polícia tentou fazer a perícia no local, mas O Maior Espetáculo da Terra é mais importante do que fraturas expostas ou traumatismos cranianos. O carro foi imediatamente retirado do local, sem perícia; o motorista não foi identificado, nem apresentado à polícia; e os cartolas do samba se apressaram em divulgar notas oficiais dizendo que estava tudo em ordem, e que o espetáculo ia continuar. Ah, sim, é verdade, também havia vítimas daquele lamentável incidente, mas já tinham recebido toda a assistência .

A polícia, claro, não deu voz de prisão a qualquer dos criminosos que estavam, ao vivo e em cores, acobertando o acidente e o responsável.

Hoje, os feridos estão hospitalizados. Espero que se recuperem.

Pessoalmente, considero que vidas humanas têm mais importância do que direitos de transmissão ou do que desfiles de escolas de samba.

O Quartelmestre
O Quartelmestre
polímata
filomático
pesquisador
escritor

LUIZ CLÁUDIO, o Quartelmestre, the Rules Lawyer, conversa e escreve sobre jogadores e jogos de todos os tipos, sobre ludologia, narrativas, poesia, e mais.

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